28.11.10

LATRINA

Estou bêbado e voltando para casa – casa aqui é apenas uma expressão, pois moro em uma pensão – divido o quarto com pessoas que não conheço, um lugar que oferece hospedagem temporária para pessoas como eu, sem grandes aspirações mas com alguma perspectiva.

O espaço é velho e grande, lembra muito um cortiço. Ali encontram-se pessoas de todos os cantos, mineiros, gaúchos, caiçaras e caipiras do interior, garimpeiros que chegam de longe e vão tratando de viver como podem e escavar qualquer coisa na grande montanha de merda que é esta cidade. Há de tudo, feirantes, estudantes, operadores de telemarketing, em suma, toda espécie de filho da puta vem parar aqui.

O dono do lugar é um ex-malandro que também atua nas noites como barman numa badaladíssima boite gay além dessa condição de micro empresário do ramo hoteleiro

A decoração do lugar é bem pitoresca, paredes cobertas com impressos com dizeres bastante sugestivos como: “A geladeira não é depósito, cuidado para não estragar seus alimentos, não compre nada que não seja necessário” ou “Um fator primordial para o bom convívio é a higiene pessoal. Tomar banho ao chegar dos compromissos diários, lavar bem os pés, principalmente as pessoas que tem chulé pois ninguém é obrigado a agüentar, os sapatos com mau cheiro devem ser mantidos fora da casa”.

Particularmente me apraz um enorme, bem na porta da cozinha, diz: “Nunca fume dentro da casa nem acenda o cigarro no fogão, isto é inadmissível; por favor fumantes, joguem suas bitucas de cigarro no cesto pendurado lá fora. Isso tudo se resume nas palavras Educação, Respeito e Bom senso” logo abaixo há uma observação muito interessante, em negrito que diz: “As pessoas que não colaborarem terão suas vagas pedidas pelo pensionato. Aqui NÃO existe a frase tô pagando, tô podendo”.

Um lugar onde só se pode tolerar com a premissa de estar sempre embriagado.

 
 
(Julho de 2010)

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