17.1.11

Desjejum com Borges

     Chovia gostoso hoje pela manhã e eu vinha devagar flanando pelas ruas de Santana porque gosto de caminhar, independente do tempo que esteja eu costumo caminhar, guarda-chuvas e sombrinhas formavam um mosaico inusitado pelas ruas, e eu, que não tenho medo de chuva, que não sou nem de papel, muito menos feito de açúcar, vinha caminhando lerdamente curtindo o frio da manhã e a garoa, o patrimônio da Babilônia.
     Cheguei na pensão perto das nove, fumei um cigarro, deixei umas coisas na geladeira e quando subi, dei de cara com um senhor sozinho com uma caneca vazia nas mãos, vendo o noticiário matinal. Este senhor está na pensão já há algum tempo, pelo que me consta, ele sofre de Alzheimer e mora com um filho, que o deixa só a maior parte do tempo, como isso aqui está se convertendo em asilo para dementes, achei que sua patologia é dos males o menor, perto do que tenho visto por aqui.
     Ocorre que este senhor tem uma semelhança gritante com o senhor Jorge Luís Borges, além de ser tão rude e chato como constam as descrições do velho bruxo; ver aquele senhor faminto e só naquela sala me deixou perturbado, afinal, não se tolera fome ao notá-la em ninguém, e em um senhor particularmente, definitivamente não caia bem.Com o pretexto de fazer um café para mim convidei o senhor Everaldo, que foi como ele me informou seu nome, a tomar comigo um desjejum que eu faria somente para ele pois já tinha comido na padaria alguns minutos atrás, mas sabia que ele sentia fome e que não aceitaria que eu fizesse algo somente para ele, o velho é durão, é um pé no saco aliás.
     Me informou que esperava pelo filho, e por isso a caneca em suas mãos, disse-me que ele tinha ido até a padaria mas a chuva o devia ter atrasado, notei que o velho não falava coisa com coisa, mas me diverti ao notar uma inventabilidade notável, provável sintoma do mal que lhe ia corroendo as memórias em seu passo invisível e letal. Disse ainda que tinha sido dono de um hotel em outros tempos, e que fora tão rico e tão bondoso que aproveitadores foram rapinando pouco a pouco seus bens fortuitamente até que se viu fulminado, tinha ido irremediavelmente a bancarrota, um burguês falido, explica muito sobre os preconceitos do coroa.
     Enquanto a água ia fervendo e eu separava em duas porções, uma para misturar o leite em pó, outra para o café eu ia ouvindo as memórias do velho e me lembrando outras ocasiões em que ele e eu havíamos nos desentendido, ele reclamava insistentemente do cheiro dos cigarros, já tinha manifestado incontáveis vezes seu desprezo pelas "pessoas de cor" e pelos "nortistas" estava tão convencido da inferioridade das pessoas que se sentia a vontade para exercer seu preconceito sem ressalvas, o que eu avaliava muito saudável para um senhor que decididamente está com um pé enfiado na cova e não deve satisfação de sua vida pra ninguém, no entanto, a figura frágil que eu tinha encontrado naquela sala ainda a alguns minutos atrás deixava claro as fraquezas e angustias de uma fase a que todos estamos condenados inapelavelmente, o velho tava tão fodido quanto eu estaria caso chegasse onde ele havia chegado então não caberia a mim dizer isso ou aquilo sobre o que ele pensava ou dizia, cabia a mim respeitar a insensatez deste senhor, e, ainda que não tivesse a obrigação de alimentar alguém que se sentia superior a mim por conta da pouca pigmentação de sua cutis, ou que vivesse para se queixar que meu cigarro o incomodava, cabia respeitar alguém que, tendo vivido em outros tempos, trazia consigo a marca indelével de outras formas de conceber a realidade.
     Comeu e bebeu sem se ater ao fato de eu não ter sequer tocado em nada, não reclamou que eu fumasse, e naquele momento, ali, naquela garagem convertida em cozinha, estava feliz que pudesse participar de um desjejum com Borges, e  sentia uma empatia e uma compaixão tamanha, que era como se o coroa e eu nos conhecessemos desde outras eras e, se eu acreditasse nessas baboseiras pseudo metafísicas e em toda caralhada esotérica, poderia jurar que de fato estava diante do mestre, ou ainda, que o tiozão e eu já tivéssemos convivido de alguma forma em outras existências...
     Não agradeceu e eu não esperava por isso de qualquer forma, me disse que eu era um rapaz direito e por isso deveria tirar meus brincos que isso não era coisa pra homens de bem, que jamais perdoaria o filho (que não havia ainda retornado da padaria mesmo tendo cessado a chuva, e ele, pelo jeito, sequer se lembrava disso) caso ele resolvesse fazer uma presepada dessas e tudo o mais pedi a ele que tomasse cuidado com as escadas que estavam molhadas e ele poderia escorregar, ele disse que era velho e não cego, então notei que não era tão perfeito quanto Borges.

31.12.10

     São 23:30h quando me levanto, me visto e resolvo sair, estou precisando caminhar, uma inesperada pausa no trabalho me pegou sem que me planejasse, por isso, tenho muitos dias de ócio mas não disponho de praticamente nenhuma grana, minhas costas doem porque tenho passado a maior parte do meu tempo deitado.
     Caminho por uma rua compida, estreita e sinuosa, a Banco das Palmas é uma rua sem muitas coisas para se ver, chego rápido até a próxima rua, a Salete, de um lado, uma escadaria que vai levar a uma outra rua, do outro; posso ver avenida não muito distante, há pichações por toda parte, muros, paredes e janelas tomadas por letras incompreensíveis, ideogramas urbanos. Afinal, é isso o progresso, uma sociedade que cria gerações inteiras de pessoas que só sabem se expressar por meio da destruição, multidões que precisam depredar para comunicar.
     E dizem que a tipografia da pichação é apenas vandalismo, pelo que me consta, o expressionismo alemão não era uma vanguarda interessada na contemplação do belo, a arte, pelos menos para mim, tem que ferir, tem que incomodar, feito ferida, uma crise de gastrite, me lembro de um amigo me dizer que para ele a arte era apenas mais uma linguagem...A forma como apreendemos a realidade é apenas uma dentre tantas possibilidades, prova disso é que não precisamos buscar muito e logo nos vem a mente vários exemplos de significados distintos para um mesmo símbolo de acordo com a cultura dos povos, signos, tudo está resumido a signos e interpretação, o velho Don Juan é que sabia das coisas...
     O terminal de ônibus de Santana é para onde me dirijo, aquele lugar é um caleidoscópio humano, milhares de possibilidades, uma gama quase infinita de variações, gente de todos os lados, caracteres díspares de códigos insociáveis convivendo espremido pelos paredões de concreto; indo e vindo no espaço indissociável da idéia de transição, transposicação de A para D com paradas em B e C "um café preto de conquenta centavos por favor", meu sotaque me cagueta, sou notado sob nova perspectiva, mais um que veio de longe para arrastar sua vida pelas calçadas encardidas da Babilônia.
     Não tem muito tempo isso aqui era repleto de vendedores ambulantes, hoje tá tomado pela polícia, na Leite de Morais só tem camelôs nas primeiras horas do dia, agora eles anunciam suas mercadorias ao pé do ouvido dos transeuntes, como alguma indecência, um convite sacana de uma puta que não pudesse ser ouvido por todos "cds, programas, jogos e dvds" soa como alguma ofensa moral, é isso o progresso...
     Para o próximo ano estou preparando orações, correntes, patuás, mandigas, isso não é ecumenismo, é desespero, outro ano como esse me mata, com certeza.
     Na verdade não posso dizer que foi de todo mal, já vivi muito pior inclusive, talvez eu tenha me acostumado a lamentar...melhor garantir o barco da Iemanjá, por via das dúvidas...

27.12.10

Veias, vísceras e vírgulas

"Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos".
William Blake

     Aprende a amar teus maus momentos, conviva com eles aceita-os, afinal, é o conjunto deles que tornará possível apreender os melhores dias quando a felicidade resolver aparecer.
     Ninguém que tenha pisado sobre este chão foi capaz de deixar atrás de si um rastro de plenitude e gozo somente, seria isensato esperar o lapso das leis apenas para si, sentir, é uma das condições para que se possa existir além disso, a felicidade permanente nos teria condenado a todos, pleno rebanho para as bestas, patéticas vítimas das eras glaciais.
     Esqueça todos os conselhos, nenhum deles te servirá, nunca houve alguém como você, uma combinação única de moléculas de carbono onde não cabem as experiências alheias, você terá que descobrir sozinho, vai ter que sangrar e vai ter que sofrer, não há outro modo, qualquer coisa que soe melhor é falácia.
     É preciso certo cuidado para que as dores não doam além do necessário, para que não se transformem em conveninetes justificativas para isso ou aquilo.
     Ontem a tarde o SAMU teve que vir até aqui para levar um maluco que tinha surtado e se recusava a  abrir a porta de seu quarto, enquanto o sujeito era imobilizado na maca sob a justificativa de que não poderiam seguir se ele não fosse amarrado (pelo menos é o que nos diz a lei de trânsito)bem ali, diante de todos nós ele ri, ri muito, jogando a cabeça para trás com os olhos fora da órbita ele nos diz "tchau seus otários, estou embarcando na nave espacial!" o tipo de coisa que me faz pensar em duas coisas; que a felicidade pode sim ter cheiro de loucura, e a segunda é que tenho que ficar velhaco com o pessoal do SAMU, quando chegar a minha vez, talvez eu não saiba o que fazer, eles argumentam muito bem,

 


5.12.10

Novos Tempos

     Trancado no bannheiro quinze para meia-noite, escrevendo qualquer coisa, ultimamente estou escrevendo qualquer coisa e, mesmo sabendo que não estou escrevendo porra nenhuma, estou no banheiro e são quinze para meia-noite.
      Estranhamente não estou bêbado nem chapado, alguma coisa aconteceu e sem que eu percebesse havia vencido o prazo de validade daquele modelo de vida que eu vinha vivendo, não me haviam informado mas não restava nada dos meus projetos anteriores, eu precisava me levantar, me jogar de volta para dentro da minha vida e continuar do ponto de onde havia parado, nem sei por quanto tempo, pelo que me lembro, eu costumava a pensar e a produzir coisas que me fossem úteis.
     Dois mil e dez passou por mim feito os sacos de lixo do Bom Retiro em dia de chuva: fedendo e seguindo o curso das águas, diz um amigo meu que piadas, mulheres e metáforas não se explicam, então melhor não dizer mais nada.

      Posso dizer que, se não cheguei a lugar algum, pelo menos não retrocedi, e, olhando tudo com um pouco mais de calma, noto que consegui reatar os laços com a arte da palavra grafada, coisa que eu julgava perdida há tempos.
      Hoje participei de uma pequena epopéia pelas ruas da cidade, saí de Santana com destino à Pirajussara de transporte público, um rolê tão extenso, englobando trem, metrô e ônibus que só de pensar em descrever já me sinto fatigado. Montado na minha cacunda ia o Davi, de quem já falei em algum outro texto, o miserável pesa tanto que conforme eu caminhava podia sentir na minha coluna o efeito do choque de duas placas tectônicas colidindo, e o Exu encarapinhado vinha lépido e contente cacarejando musiquinhas de final de ano que ele aprendeu na escola, vinha feliz o miserável gritando com a voz do Pato Donald coisas sem sentido.
     Peguei um metrô de Santana até a Luz e de lá um trem até a estação Presidente Altino, uma antes de Osasco, para chegar até o terminal do Santo Amaro e de lá um metrô até o Campo Limpo onde peguei um ônibus que me deixou na porta do hospital. Fazia um calor desconcertante, estava sedento por uma cerveja mas não bebi; geralmente quando saio com alguma criança evito alguns hábitos, deixo de lado o cigarro, a bebida e os palavrões, penso que já que me pagam pra fazer algum trabalho, que pelo menos eu tenha a dignidade de fazer o barato bem feito, não bebi, mas que sentia vontade sentia.
     Chegando ao consultório o menino deveria mostrar à ortopedista que lhe operou que já tinha um bom desenvolvimento clínico, até mesmo para receber uma alta, mas o miserável estava em um de seus melhores dias, mancou, se jogou no chão, chorou e disse que sentia dores, todo um teatro que todos conhecemos muito bem, mas que comove as pessoas, como a doutora não é diferente, resolveu que ele deveria permanecer em observação por mais seis meses, afinal ela não atravessou a cidade com aquele diabinho nos braços e nas costas cacarejando sem parar com a voz do Pato Donald, enfim, tudo aquilo.
     O filho da puta que disse que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no tempo e no espaço nunca precisou pegar um trem em Osasco as cinco da tarde, fui praticamente sodomizado dentro daquele vagão tentando preservar o menino, que adivinhem, ria, ria as gargalhadas ao me ver sendo espancado pela multidão para garantir que ele permanecesse ileso e sentadinho em seu acento preferencial.
     Fim do dia, tudo certo, aquela breja na esquina antes de voltar para casa, a sensação do dever cumprido, e a certeza de que, se não andei para frente, pelo menos não retrocedi, é hora de dormir, estou moído, além disso, estou trancado no banheiro e já é meia-noite.

Bariátrica

     Acordei tarde e tinha ressaca, passei o dia sem comer e haviam poucos cigarros, pensei no que estava fazendo e tudo me entediava, vinha trabalhando sem vontade e meu dinheiro nunca dava para nada, me sentia deprimido e com preguiça e mesmo assim não me preocupava com nada.
     As três da tarde recebo uma ligação, um truta meu tinha um bagulho para me entregar e queria me encontrar.Eu havia dado a ele algum dinheiro uns dias atrás e já tinha pego uma parte, faltavam cinquenta gramas que ele tinha conseguido descolar e me ligou; queria me encontrar numa rua paralela ao terminal de ônibus de Santana, eu disse que o encontraria lá dentro de dez minutos.
     Saí caminhando sem pressa e cheguei lá depois do prazo combinado, comecei a procurar algum orelhão que funcionasse quando atrás de mim uma Kombi começa a buzinar, eu me viro e o vejo diante de mim uma verdadeira banheira sobre rodas, cobrindo toda a lateral do veículo uma enorme fotografia de um candidato a deputado estadual nas eleições do mês seguinte, dentro um pit bull enorme e sem coleira sobre uma pilha de papéis, bandeiras, cartazes com o símbolo do partido e do fulano, no volante, o já citado truta sem camisa, com óculos de sol.
     Fomos em um tour pelas ruas de Santana fumando e brisando pelas ruas sem pressa, duas horas depois me deixou em frente a pensão e foi terminar o bico dele, eu, dormi chapado até as oito da noite. Eu ia fumar um cigarro, na pensão tem uma área reservada aos fumantes, eu ia seguindo para lá quando passa por mim o dono da pensão e me convida para ir com ele e mais três rapazes que ele já tinha chamado para irmos até a Casa Verde ajudar um vizinho dele a retirar de seu estabelecimento algumas máquinas de bingo, coisa fácil, nós iríamos retirá-las e levá-las até uma garagem do outro lado da rua, a idéia era conseguir burlar uma busca que a polícia ia fazer dali a alguns dias, o dono do bar precisava desovar as máquinas rápido e na migué, se a gente fizesse tudo direitinho a grana ia ser moleza.
     Rolou tudo dentro do previsto, duas horas depois nós já havíamos mocosado tudo devidamente, tomamos algumas por conta do maluco do bar, e naquela noite dormi com cento e cinquenta reais a mais e recheado de bagulho do bom.
    

29.11.10

Centro a noite

O rolê noturno precisa acontecer com todas as precauções que a noite de uma grande cidade sugere, na mochila, goro mocozado, alguns maços de cigarro, moedas de baixo valor, um agasalho para encobrir tudo isso, você precisa de cuidado, vontade, um bom baseado e um bloco de notas.


Eu saí com a desculpa de não ter desculpas para dar e queria caminhar pelo centro; desde o Vale do Anhangabaú até a Sé e já eram umas onze e meia da noite de um dia qualquer sem perspectivas e nada que visualmente valesse a pena, queria apenas perambular vagabundamente sem pressa nem compromisso, isso é o que faz tudo ser como deve ser...

Uma espiga de milho, quase meia-noite e eu atracado com uma espiga de milho; o tipo de coisa que a gente só faz porque quer algo bom mas não pode pagar, idéias vendidas de consumo que aceitamos tacitamente, então o sujeito se presenteia com uma espiga de milho cozida bem ali, na esquina de uma rua movimentada, defumada a monóxido de carbono e o sujeito se sente bem e feliz consigo mesmo.

Apertei um banza dos bons ali no Vale, próximo às estátuas que, iluminadas a noite ficam lindas, mas tinha tanto vadio por ali, tanto nóia que decidi perambular mais para dentro, segui em direção a Sé.

Vinha eu batucando um samba do Cartola na caixa de fósforo, mas havia um estranho fluxo automotivo, sirenes e barulhos que abafavam meu som...mendigos havia por todos os lados e de repente, subitamente, me lembrei que a poucos dias tinham ateado fogo em alguns mendigos na zona norte; assim sendo, batucar numa caixa de fósforos diante daquele mundaréu de indigente não me pareceu a coisa mais sensata, resolvi parar, ali na rua mesmo, debaixo de uma marquise e toquei fogo na ponta do banza.

Sei que até o sistema de ônibus voltar a funcionar e tinha uma verdadeira epopéia sobre a noite no centro, da qual não restou sequer uma palavra que valesse a pena deitar no papel, o melhor de tudo foi, sem dúvidas, batucar no sereno, os sambas do Noel.



                                                                                              (outubro de 2010)

Saiba que

     Ser gauche não é assim tão fácil quanto sugera a poética do gênio - e ainda que não sugira, há sempre os que se deixam levar - é preciso gana, é preciso cana, é preciso cânhamo porque, eu te digo, em uma cidade com vinte e dois milhões de habitantes, não se acham amigos que lêem Horácio nem porra nenhuma.


On the Road só caiu no papel porque ali haviam amigos, patrocínio e ninguém tinha que levantar às cinco e encarar o ônibus bombando.

Dia desses fui até a biblioteca do Parque da Juventude, antiga Casa de Detenção de São Paulo, vulgo Carandiru, as pessoas me olhavam na rua como se eu fosse um mendigo porque vestia roupas amarrotadas e desbotadas e um gorro desses que normalmente se usa para dormir, mas eu ia alheio a todos, desde que não sentisse frio, pouco me importava para o aspecto que minha roupa tinha e a impressão que elas causavam nas pessoas, cagava para todos.

Renovei o empréstimo de três livros técnicos, do projeto de mestrado que eu nunca comecei a escrever, resolvi de improviso escolher o livro de algum notório vadio somente para tentar me divertir com o estilo dos indigentes que escrevem, eu, um ghost writter sem obra, sem editora, sem dinheiro...

Passei pela ETEC, deixei na fotocopiadora os livros sobre o projeto que eu provavelmente nunca escreverei. No caminho de volta para a pensão paro para falar com o cara que cuida dos carros na rua, um dia pedi a ele um cigarro e depois disso passamos a nos falar, ele é muito observador, sabe quem é o dono de cada automóvel, sabe onde trabalham e seus nomes, conta boas piadas, mais um sujeito que adquiriu equilíbrio ao caminhar a vida toda na corda bamba da falta de grana, um miliciano do conflito diário do pobre contra a falta de emprego.

Abri pela primeira vez a janela do meu quarto essa semana e já é sexta-feira, aproveito que no meu quarto não há nenhum dos meus companheiros, acendo um cigarro, me deito em minha cama e começo a leitura do livro de crônicas do cubano indecente, falta de grana acaba atrofiando os escrúpulos, se me ocorrer, que pelo menos eu consiga desenvolver uma narrativa com a mesma intensidade deste cretino que come rins humanos.

                                                                                                               (Setembro de 2010)

NON DVCOR DVCO

Hoje acordei com saudade reprimida, com saudade tipo essa que a gente sente quando encontra uma foto, velhos amigos, começos de ciclos, de vidas; casas sem mobília, penteados e roupas antigas, livros jogados, muitos livros, ideologias...


Acordar é só um modo de dizer, já que depois de um dia inteiro sem ter o que comer e sem fumar fica praticamente impossível de dormir...eu quase saí por aí, quase saí mas, aí me lembrei da Laís, da voz da Laís me dizendo “Felipe, eu já vi você pegar bituca do chão, na rua e colocar na boca”, essa lembrança me levou pra longe, pra um outro tempo em outro lugar, tive raiva e nojo de mim mesmo, e por isso não saí.

Essa é uma das tantas situações que amolecem o coração de qualquer mãe, qualquer mãe menos a minha que, além de não ter um coração, também não tem dinheiro. São cinco e meia da manhã na maior metrópole dos trópicos e sinto fome, muita fome, também gostaria de poder fumar, mas preciso me levantar e ir trabalhar.

Escovo os dentes, tento me pentear e desisto, tenho tanta fome que mal me levantei e já me sinto cansado. Cinco e meia da manhã na maior metrópole dos trópicos, eu morrendo de fome, sem cigarros e com saudades reprimidas...É preciso atravessar a rua, entre mim e o outro lado um ônibus, em sua lateral há uma divisa da prefeitura de São Paulo, entre ramos carregados de café um braço armado empunha um machado, é força, é riqueza, é São Paulo, NON DUCOR DUCO.



                                                                                                                             (Maio de 2010)

Dolores

 “Davi cingiu a espada sobre a armadura e procurou em vão andar, pois não estava acostumado àquilo. Então disse Davi a Saul: Não posso andar com isto, pois não estou acostumado. E Davi tirou aquilo de sobre si”.


1 Samuel 17:39



“Ao sul do Equador meu peito arde de paixão e minha garganta de cigarros paraguaios”, pensei num graffiti em duas ou três cores com estes dizeres, mas, bobagem, não tenho mais idade para isso, o jeito é fingir que ainda posso e realizar a arte a minha maneira, um vândalo imaginário, um artista hipotético...

Estamos indo ao hospital, Davi e eu, para o retorno dele ao neuropediatra; eu trabalho em um abrigo e as crianças de lá têm sérios problemas.

Gosto de me afundar na merda alheia porque isso me alegra, me sinto útil e ao mesmo tempo percebo que meus problemas pessoais não são nada diante das tormentas que algumas pessoas tem que enfrentar... Não é que eu seja sádico, um lunático pervertido, mas acho que só se pode perceber que falta de dinheiro não é o fim do mundo quando você se dá conta que não precisa da ajuda de ninguém para limpar seu próprio rabo; e você percebe que viver em uma espelunca é infinitas vezes superior a um catre de papelão a céu aberto quando a metereologia prevê uma noite de 2º C.

Não é que eu seja altruísta também, definitivamente solidariedade não é o que me motiva, simplesmente tento fazer alguma coisa que me motive já que minha própria vida é um amontoado de pequenas frustrações, nada de grava, mas sim aquele tipo de coisa que vai minando as forças aos poucos, daquelas coisas que vão pouco a pouco te fazendo perder o interesse, a gana pela batalha.

Compadre, do meu lado há um menino de seis anos com as duas perna imobilizadas, a um mês ele passa o dia todo na posição de frango assado, o dia todo imóvel. Em suas costas há escaras do tamanho da minha mão, suas virilhas estão costuradas desde o períneo até o púbis e mesmo assim ele sorri pra mim com muita franqueza quando tenho que levantá-lo para que minha companheira possa trocar sua fralda, aquilo deve doer como se o próprio Cão lhe aferroasse as carnes com ferros em brasa mas ele sorri e me diz com a voz de criança cuja preocupação mais salutar é a Vila Sésamo:

- Tio, arruma a antena da televisão pra eu ver o Garibaldo!

E eu, reclamando da vida.



(Julho de 2010)

28.11.10

LATRINA

Estou bêbado e voltando para casa – casa aqui é apenas uma expressão, pois moro em uma pensão – divido o quarto com pessoas que não conheço, um lugar que oferece hospedagem temporária para pessoas como eu, sem grandes aspirações mas com alguma perspectiva.

O espaço é velho e grande, lembra muito um cortiço. Ali encontram-se pessoas de todos os cantos, mineiros, gaúchos, caiçaras e caipiras do interior, garimpeiros que chegam de longe e vão tratando de viver como podem e escavar qualquer coisa na grande montanha de merda que é esta cidade. Há de tudo, feirantes, estudantes, operadores de telemarketing, em suma, toda espécie de filho da puta vem parar aqui.

O dono do lugar é um ex-malandro que também atua nas noites como barman numa badaladíssima boite gay além dessa condição de micro empresário do ramo hoteleiro

A decoração do lugar é bem pitoresca, paredes cobertas com impressos com dizeres bastante sugestivos como: “A geladeira não é depósito, cuidado para não estragar seus alimentos, não compre nada que não seja necessário” ou “Um fator primordial para o bom convívio é a higiene pessoal. Tomar banho ao chegar dos compromissos diários, lavar bem os pés, principalmente as pessoas que tem chulé pois ninguém é obrigado a agüentar, os sapatos com mau cheiro devem ser mantidos fora da casa”.

Particularmente me apraz um enorme, bem na porta da cozinha, diz: “Nunca fume dentro da casa nem acenda o cigarro no fogão, isto é inadmissível; por favor fumantes, joguem suas bitucas de cigarro no cesto pendurado lá fora. Isso tudo se resume nas palavras Educação, Respeito e Bom senso” logo abaixo há uma observação muito interessante, em negrito que diz: “As pessoas que não colaborarem terão suas vagas pedidas pelo pensionato. Aqui NÃO existe a frase tô pagando, tô podendo”.

Um lugar onde só se pode tolerar com a premissa de estar sempre embriagado.

 
 
(Julho de 2010)

Protelando

A zona norte é trafego é combustão, motores, mendigos, vendedores ambulantes, sinais de dois tempos, aliteração.

Daí que brotam fábulas do burburinho das pessoas, de algumas figuras exóticas dentro de um ônibus, da imagem do metrô imergindo da estrutura elevada de concreto para tornar a se enfiar debaixo da terra.

A sujeira sugere imagens às vezes interessantes, insólitas imagens de beleza ou simplesmente sujeira que corre pelas ruas em dias de chuva.

Trabalho em um abrigo e moro em uma pensão, não era exatamente essa a idéia que eu tinha de sucesso quando decidi vir à São Paulo tentar a sorte como num jogo de dados. No parque ao lado da estação de metrô Jardim São Paulo leio “O insaciável Homem Aranha” do cubano Pedro Juan Gutierrez, faltam cinco minutos para o final do meu horário de almoço, o relógio de registro de pontos, este sim é insaciável.

Adito contumaz, irremediavelmente notívago, gozava eu da total irresponsabilidade, bastardo de berço, um mestiço que não lê Lima Barreto somente por ser ignorante das coisas que valem a pena. Eu queria ter coisas boas para dizer a meu respeito, vivi querendo muitas coisas pelas quais nunca me esforcei nem nunca tentei conseguir, a verdade é que estou me fodendo para qualquer coisa.

Vivo querendo fugir de algo que nem sei o que é, de algo que na verdade nunca me incomodou de verdade, afinal, estou cagando e andando para o que quer que seja.

No auge da imaturidade dos meus vinte e tantos anos vivi mergulhado na temática da contra-cultura apenas para justificar o fato de eu viver embriagado e alucinado, esvaziando minha mente, um bêbado sem significações nem maiores implicações.

Uma hora vai foder, eu sei que uma hora vai foder e, sabendo disso, tento ao máximo protelar esse arremedo de existência, simulacro de qualquer coisa que suponho elaborada, pantomima de literatura.





(Março de 2010)

20.11.10

Dedicado a Orlando Boldrin grande bardo do nosso rico e belo sertão.




O causo do danado do cigarro



Eu tenho cá na memória um causo muito interessante, que, se não educa, pelo menos não corrompe; um causo meu mesmo, de engenho singelo, mas que eu queria compartilhar de coração, é o causo de como eu larguei o danado do cigarro, a chupeta do tinhoso, o pirulito do cancro que eu, de tanto pelejar, consegui largar.

Eu vinha passando uns dias na casa da minha noiva, na cidade de São Paulo, e como eu tinha ido só com o dinheiro da volta (e para uns mimos que afinal era a casa da minha noiva) não tava me sobrando nem o dinheiro pra uma pinga, e já que eu toquei nesse assunto, até pra tomar pinga em São Paulo a gente tem que pegar um metrô, e desse jeito é que não ia me sobrar nenhum dinheiro mesmo.

Essa lei aí do governo do estado ainda não tinha vigorado, e nem era isso que tava me preocupando, é que dureza econômica põe a gente duro de coração também, quem já viveu junto de outro só com o dinheiro das contas sabe do que eu tô falando, a gente se enerva por pouca coisa, que o problema não é o outro, mas sim os vencimentos, as promissórias, toda aquela história, e quando minha noiva chegava do trabalho, cansada da loucura daquelas ruas, eu sem ter o que fazer a destratava, depois ficava arrependido, fazendo cara de sonso, mas mesmo quando a gente ama e perdoa, quando a mágoa dói na alma mesmo, nunca fica o dito pelo não dito, e eu ficava me remoendo ensopado de remorsos e foi assim, de besteira em besteira que eu percebi que eu precisava muito, e logo, deixar dessas tolices e percebi que dentre todas, a maior das minhas asneiras era aquela que vinha num pacote com mais dezenove, tinha filtro e quando eu acendia, relaxava, mas era o mesma coisa que eu pegar e jogar o meu dinheiro na privada.

Decidi que quando viesse embora eu ia deixar esse vício maldito, porque para quem não sabe, fumar não é costume, é doença, e doença ruim, quem fuma não consegue parar duma vez porque sempre tem alguma coisa, algum costume, algum lugar que faz a gente lembrar, antigamente era nessa hora que eu gostava de pitar, no meio de uma prosa gostosa, uma varanda no fim da tarde modorrenta, uma rede um café e o dito cujo...Mas, fiando na paciência dos meus nervos o já citado desejo, transformei a minha história, minha vida não é feita mais de “antigamentes”, hoje eu prefiro os “daqui pra frentes”.

Mas essa prosa tá muito séria, tá parecendo conversa de médico, o senhor veja se não me vai voltar a fumar pra não deixar muito cedo nesta terra uma viúva pelo amor de Deus seu fulano, não, meu causo era pra ser diferente e, agora que eu venho falando e falando achava necessário falar também do início, antes da gente falar de como eu larguei, é preciso saber de como eu me apeguei, porque depois que eu me propus a largar esse vício, esse costume maligno, eu cá com os meus botões me pus a matutar sobre essa minha condição, afinal, tudo que morre tem que nascer um dia, feito os bichos, criação. E se eu comecei o causo já pelo fim da história, foi só pra afinar minha prosa, extravagâncias de escritor que a gente vai pegando costume, de acompanhar as leituras que vai fazendo durante o sempre caminhar para frente que é o sentido dessa vida.

Eu nasci e fui criado numa cidade pequena, mas pequena de dar pena, saí de lá já crescido, com desculpa de estudar, minha cidade fica na beirada do Tietê, onde o rio é muito limpo, terra que antigamente atraía índio bravo, onde a peãozada caçava suas esposas no laço, tinha praias muito limpas, de areia muito alva. Minha infância foi saudável, pesquei tuvira no brejo com peneira, comi doce de leite raspado no tacho, e por isso tive caganeira, subi em pé de manga, subi em goiabeira, buli com menina arteira, tomei banho em cachoeira, velei defunto na sala de casa, tirei minhoca do chão do quintal, roubei jabuticaba de roça, tomei tiro de espingarda de sal, e no meio de tudo isso, eu consigo me lembrar, melhor dizendo eu sempre consigo me lembrar, no meio das lembranças guardadas, do fumo, da palha, da fumaça.

O que eu quero dizer, mormente estou pretendendo, é mostrar que o bendito cigarro está muito enraizado, está atolado até o talo, nos costumes de toda gente, mas como esse causo é a meu respeito, deixemos de lado essas coisas, que isso é coisa pra pesquisador, antropólogo, sociólogo, qualquer coisa terminada em ólogo, eu quero é falar de mim, de como me apaixonei por um pedaço de bosta enrolado num papel com uma espuma esquisita numa das pontas, que mata mais cruelmente que pernambucano quando descobre que é corno, então você me desculpe mas eu vou mudar o rumo dessa prosa.

Das lembranças mais fortes que eu trago da minha infância, estão os cheiros, a relação que a gente tem com os aromas é muito forte, quem nunca se lembrou de alguém ao sentir um perfume na rua pode dizer que estou besta, mas eu acho que esse não é o caso e assim sendo, vamos de novo voltar ao meu causo.

Eu me lembro que bem cedo, muito antes do sol ter nascido, minha avó já aprontava o café, eu me lembro do cheiro e do chiado da carne frita que era para a marmita e o outro cheiro que eu lembro é o cheiro do pito. Meu avô que preparava, com cuidados de quem conhece a arte, primeiro ele aparava e acertava o tamanho da palha, depois picava o fumo de corda, com o mesmo canivete que usava para pelar laranja pra mim, o fumo em corda tinha um cheiro muito bom, mas quando ele acendia o cigarro o fumo perdia a graça, eu nunca consegui entender pra onde ia o cheiro bom depois que meu avô soltava a tragada que enchia a cozinha com o cheiro fedido de sua fumaça.

Eu me iniciei nisso quando comecei a trabalhar na roça, minha família era muito simples, mas nunca me deixou faltar nada, se eu não quisesse, não precisaria trabalhar na lida, mas eu queria. Eu queria ter meu próprio dinheiro, poder comprar as minhas coisas, ir ao cinema, poder convidar as moças, e, principalmente, porque respeitava os esforços dos meus, e aqui cabe outro parêntese, esse respeito foi conquistado à moda antiga, a guascadas do relho, do tempo que meu avô era tropeiro, quando umas boas bordoadas faziam parte da educação.

Então eu estava iniciado, o cigarro e a pinga aliviavam a lida, não era fácil conseguir conforto no eito, seguindo exemplo dos mais velhos, veteranos na guerra contra o pomar, eu passei desde moço, a beber e a fumar.

Bem se diz que Deus escreve certo por linhas tortas, quando ia eu imaginar que minha avó tendo descoberto minhas safadezas, invés de ralhar me fez troça, me fez perceber, envergonhado, que eu, por mais que me achasse, não era homem feito, nem pra beber, nem pra fumar, nem para a roça, depois de umas boas da velha abandonei o costume e voltei a estudar, a velhacaria, logo vi, com a idade vai ganhando vultos de sabedoria, minha querida e sábia avó me fez perceber, que eu tinha era que estudar, dar continuidade ao meu nome, crescer e me fazer homem, antes de me perder, era preciso primeiro eu me achar.

Depois disso a faculdade, nesse entremeio muito ocorreu, nada digno de registro, eu miudinho espichei em tamanho e sabedoria, e foi assim que um diabo de idéia subiu e se aboletou no meu telhado, diabo de peste de idéia apinhada, que eu tinha que sair de casa e vir estudar numa cidade maior e foi assim que vim dar nestas paragens, e foi nas festas dessa primeira mocidade que eu me reencontrei com o danado.

Reatei os laços com a indecência do vício, fiz votos e completamos bodas, eu achando que aquilo era bonito, e foi aí que encontrei a minha noiva, entre idas e vindas e voltas que essa Terra dá, eu que era um corpo desgarrado da alma, uma carcaça vazia de si própria, em se tratando de alguns propósitos, ao pé daquela moça me vi cativo, repare que é sempre isso, em mim, naquele lá e no outro, é preciso um rabo de saia pra por a cabeça da gente no lugar, primeiro bagunça, faz o corpo ebulir, faz o sangue ferver dentro das veias e conforme o sentimento se amiúda vai serenando, vai fazendo uma limpeza na vida da gente, organizando; comigo não foi diferente, aquela moça que conheci e eu afunilamos nossas vidas e decidimos fazer juntos um nosso mesmo caminho e foi assim que comecei a perceber que era preciso corrigir alguns desvios.

E dessa vez larguei a danação em definitivo, a mim importa muito reaver esse meu tempo perdido, agora começa o calvário, é a minha expiação, quando me bate a vontade do danado é como uma sede, uma bruta sede que não vê fim, é um querer de nunca acabar, um oco dolorido dentro do ser, que a coisa é tão ruim, o diabo do vício é tão danado que quando bate a vontade a gente não toma ciência de nada, a gente procura desesperado onde encontrar um maldito de um cigarro.

Os primeiros dias foram de uma tristeza que não conhecia fim , quando batia a vontade, era como uma cegueira, era o mesmo desespero de estar dentro de ônibus quando vem a caganeira, mas com muita vontade e o propósito firmado, eu fui teimando e teimando, teimosia de burro cismado e foi assim que me livrei do danado do cigarro.

Esse causo é sobre mim, de como me apaixonei e como me livrei de uma coisa que não me fazia bem, nem a mim, nem a ninguém, mas é também, a sua maneira, uma história sobre dependência, que não escolhe idade, nem cor, nem profissão, o vício desconhece diferenças, pretendi mostrar com esse causo que a vida é como uma boiada sendo tangida rumo à invernada, é preciso pulso para não desgovernar, em se tratando de querer, é sempre possível largar, eu pude, você pode, sempre poderá. Fica o exemplo pra quem quiser tentar, fácil eu adianto que não é, nunca será, mas tudo que é muito fácil nessa vida, perde logo sua graça.

Companheiros eu preciso me deitar, amanhã acordo cedo, é dia de trabalhar, foi bom prosear com vocês, é sempre bom poder falar, pros patrícios fica um abraço, pros demais fica o lembrete, cada dia traz consigo uma nova oportunidade, aquele que vê no alvorecer a dádiva, é sábio, conhecedor de verdades.