29.11.10

NON DVCOR DVCO

Hoje acordei com saudade reprimida, com saudade tipo essa que a gente sente quando encontra uma foto, velhos amigos, começos de ciclos, de vidas; casas sem mobília, penteados e roupas antigas, livros jogados, muitos livros, ideologias...


Acordar é só um modo de dizer, já que depois de um dia inteiro sem ter o que comer e sem fumar fica praticamente impossível de dormir...eu quase saí por aí, quase saí mas, aí me lembrei da Laís, da voz da Laís me dizendo “Felipe, eu já vi você pegar bituca do chão, na rua e colocar na boca”, essa lembrança me levou pra longe, pra um outro tempo em outro lugar, tive raiva e nojo de mim mesmo, e por isso não saí.

Essa é uma das tantas situações que amolecem o coração de qualquer mãe, qualquer mãe menos a minha que, além de não ter um coração, também não tem dinheiro. São cinco e meia da manhã na maior metrópole dos trópicos e sinto fome, muita fome, também gostaria de poder fumar, mas preciso me levantar e ir trabalhar.

Escovo os dentes, tento me pentear e desisto, tenho tanta fome que mal me levantei e já me sinto cansado. Cinco e meia da manhã na maior metrópole dos trópicos, eu morrendo de fome, sem cigarros e com saudades reprimidas...É preciso atravessar a rua, entre mim e o outro lado um ônibus, em sua lateral há uma divisa da prefeitura de São Paulo, entre ramos carregados de café um braço armado empunha um machado, é força, é riqueza, é São Paulo, NON DUCOR DUCO.



                                                                                                                             (Maio de 2010)

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