28.11.10

Protelando

A zona norte é trafego é combustão, motores, mendigos, vendedores ambulantes, sinais de dois tempos, aliteração.

Daí que brotam fábulas do burburinho das pessoas, de algumas figuras exóticas dentro de um ônibus, da imagem do metrô imergindo da estrutura elevada de concreto para tornar a se enfiar debaixo da terra.

A sujeira sugere imagens às vezes interessantes, insólitas imagens de beleza ou simplesmente sujeira que corre pelas ruas em dias de chuva.

Trabalho em um abrigo e moro em uma pensão, não era exatamente essa a idéia que eu tinha de sucesso quando decidi vir à São Paulo tentar a sorte como num jogo de dados. No parque ao lado da estação de metrô Jardim São Paulo leio “O insaciável Homem Aranha” do cubano Pedro Juan Gutierrez, faltam cinco minutos para o final do meu horário de almoço, o relógio de registro de pontos, este sim é insaciável.

Adito contumaz, irremediavelmente notívago, gozava eu da total irresponsabilidade, bastardo de berço, um mestiço que não lê Lima Barreto somente por ser ignorante das coisas que valem a pena. Eu queria ter coisas boas para dizer a meu respeito, vivi querendo muitas coisas pelas quais nunca me esforcei nem nunca tentei conseguir, a verdade é que estou me fodendo para qualquer coisa.

Vivo querendo fugir de algo que nem sei o que é, de algo que na verdade nunca me incomodou de verdade, afinal, estou cagando e andando para o que quer que seja.

No auge da imaturidade dos meus vinte e tantos anos vivi mergulhado na temática da contra-cultura apenas para justificar o fato de eu viver embriagado e alucinado, esvaziando minha mente, um bêbado sem significações nem maiores implicações.

Uma hora vai foder, eu sei que uma hora vai foder e, sabendo disso, tento ao máximo protelar esse arremedo de existência, simulacro de qualquer coisa que suponho elaborada, pantomima de literatura.





(Março de 2010)

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